Economia Social e Solidária na China rural
Boletim internacional de Desenvolvimento local sustentável #81
Yvon Poirier, setembro 2011
Nós estamos felizes em lhes apresentar informações concernindo à economia social e solidária na China. Apresentamos-lhes aqui a síntese de um trabalho acadêmico de uma estudante chinesa (que prefere o anonimato) numa universidade americana. Vocês vão descobrir que, lá também, pessoas percebem que é ao cooperar, ao juntar suas energias e seus recursos que podem melhorar sua situação, coletiva e individualmente. Apesar da ideologia oficial que vigora desde 1979. Pois, naquela época, tudo foi privatizado. As comunas* foram divididas em lotes individuais e as empresas funcionam sob a forma de estatutos capitalistas, com acionários. No entanto, nas zonas rurais chinesas, alguns recusaram esta virada e mantiveram a abordagem municipal coletiva. Outros a ela voltaram. Estas aldeias se tornaram referências nas zonas rurais pobres da China. Muitas vezes, com rendas per capita dez vezes superiores à media nacional. Mais recentemente, numerosas cooperativas camponesas foram criadas para a comercialização dos produtos, evitando assim de serem individualmente à mercê de intermediários. Estas cooperativas agrupam cerca de 13% do campesinato chinês, e as rendas destas famílias são mais elevadas que aquelas dos camponeses individuais. Estes avanços são notáveis, pois em certo número de casos, estas cooperativas foram criadas sem o apoio das autoridades locais. O governo central começa a pensar que estes desenvolvimentos são positivos e fundos especiais de fomento foram criados. Uma das maiores preocupações é claramente evitar acentuar mais ainda o êxodo rural para os grandes centros urbanos. Pois é sabido que a pobreza nas zonas rurais compele as pessoas ao êxodo.
Quanto a nós, sempre ficamos maravilhados ao observar as capacidades de iniciativa das comunidades locais, em toda parte no planeta, quando as pessoas unindo seus esforços, torna-se então possível melhorar a situação, até a própria vida de forma geral. Mesmo na China e apesar do individualismo reinante, agricultores ou pescadores, produtores de café ou de bananas, ao decidir congregar seus esforços, melhoram sua vida. E, como temos relatado tantas vezes em nosso boletim, quando eles começam a trabalhar juntos, eles chegam a cuidar do conjunto de suas vidas, quer seja a moradia, a saúde e a educação. Elas se inscrevem também numa abordagem sustentável de seu futuro, e daquele do planeta, um pouco no espírito das populações indígenas das Américas que têm por palavra de ordem que “cumpre pensar o desenvolvimento para sete gerações”.
Não pretendemos que se trata de um antídoto ao “mercado rei capitalista”. Entretanto, é evidente que se trata, ao mesmo tempo, de uma maneira de resistir e de construir abordagens solidárias e cooperativas que, na nossa opinião, substituirão, a prazo, um modelo dominante, predador e insustentável.
Equipe editorial
Judith Hitchman
Yvon Poirier
Martine Theveniaut
Economia social e solidária na China rural
Sob a nova direção comunista, a China realizou uma reforma agrária completa de 1949 a 1953. As terras foram tomadas dos latifundiários e distribuídas aos camponeses. A partir de 1958, o governo organizou comunas para que os camponeses pudessem organizar uma produção agrícola de grande escala com máquinas, marketing e fabricação de certos produtos. Em 1979, a nova direção decidiu privatizar as terras para os agricultores e as indústrias de propriedade coletiva foram vendidas aos capitalistas privados.
A razão avançada era que os camponeses nas comunas não tinham motivação individual. Este novo sistema foi chamado “sistema de responsabilidade familiar”. Na maioria das comunas, os camponeses concordaram, ou foram forçados a aceitar este novo sistema. No entanto, alguns recusaram e decidiram manter a organização por comunas. Para muitos daqueles que optaram pelo novo sistema, foi com resistências. Tratores e outras máquinas foram destruídos, pois não eram mais necessários. Assim, numerosos agricultores não podiam mais comprar um cavalo ou um boi para os trabalhos do campo. Isto levou muitos para a pobreza e é uma das razões que forçaram dezenas de milhões de pessoas a migrar para as grandes zonas urbanas industriais na China.
Hoje, algumas destas comunas têm um excelente desempenho:
• Os 30 000 aldeenses de Huaxi alcançaram uma renda anual total de 10 bilhões de yuans (cerca de 1,5 bilhões de dólares americanos). Além da agricultura, possuem uma siderurgia, uma empresa hortícola, uma fábrica de tecidos, entre outros. O volume de negócios total em 2010 era de 50 bilhões de yuans (8 bilhões de dólares americanos). Assim, a aldeia pode fornecer serviços gratuitos de saúde, de educação (até o doutoramento), a moradia, as prestações de aposentadoria e outras necessidades dos aldeenses.
• A aldeia Nanjie fica situada em uma província pobre do Henan. Os aldeenses são proprietários coletivamente do “Grupo Nanjie”, composto por 29 sociedades envolvidas no beneficiamento dos alimentos, na produção de tintas, de produtos farmacêuticos, de artesanato, de plásticos, na imprensa, na agricultura e nos serviços de viagem. Como em Huaxi, todos os serviços básicos, como a educação, a moradia e os benefícios de aposentadoria são fornecidos gratuitamente pela comuna. A população da aldeia é de 3.400 habitantes, e, no entanto, há 7.260 pessoas empregadas. Um fato interessante, os empregos na agricultura são mais remunerados do que nas fábricas, pois este trabalho é considerado mais difícil. A renda das famílias é cerca de dez vezes mais que nas outras aldeias da região.
• A aldeia de Xixiakou, uma comuna no Shandong tem uma população de 1.300 habitantes. Esta aldeia de pescadores, num período de 40 anos desde 1970, acumulou mias de 6 bilhões de yuans de ativos (2010). A maior parte das famílias possui um carro particular como também construíram o maior jardim zoológico da província do Shandong.
• Liuzhuang, uma comuna no Henan, com uma população de 1700 habitantes, vivia ainda uma profunda pobreza nos anos 1980. Em 2009, a renda disponível dos membros aumento para 23 000 yuans por habitante, seja mais de dez vezes a média nacional.
Estes últimos anos, houve um aumento enorme de empresas coletivas, que utilizaram o nome de “cooperativas”, pois é politicamente menos sensível que “comuna” identificada à era maoísta.
Somente na província de Shanxi, há mais de 24.000 cooperativas rurais. (Han Yuhai, Universidade de Pequim, 2010). Desde 2003, o governo central compreendeu que confiar unicamente nas famílias não era o melhor caminho. Ele reconheceu que a organização de cooperativas rurais era um meio para estes camponeses saírem da pobreza. Senão, os camponeses são empurrados fora de suas terras pelas vendas de terrenos e a locação forçada. O governou destinou fundos especiais para ajudar as famílias rurais a se reorganizarem em cooperativas. Em 2006, as cooperativas rurais cobrem 13,8% da população rural chinesa. Mesmo se muitas são mais pobres que as comunas mencionadas acima, a renda de seus membros é pelo menos 20 a 30% mais elevada que a dos camponeses que não participam de uma cooperativa. O raciocínio que orienta as cooperativas é o mesmo que o das comunas – poupança coletiva, investimentos mais elevados e partilha dos benefícios. Por exemplo, eles podem comprar veículos para o transporte dos produtos em vez de serem totalmente dependentes dos intermediários. Eles podem também ser coletivamente proprietários de máquinas e comprar bens.
As zonas rurais na China têm que enfrentar enormes desafios em matéria de irrigação. As famílias individualmente não podem tomar conta deste sistema. A alocação de água para cada lote de terra é um problema espinhoso. Em algumas zonas rurais, como na província de Jiangxi, os agricultores administram sempre coletivamente o sistema de irrigação. Na maioria das regiões da China, o sistema de irrigação não está em bom estado. É por isto que o governo central prevê de gastar 620 bilhões de dólares nos dez próximos anos com a irrigação, pois ele deve assumir todos os gastos. É por isto que a administração e a manutenção coletiva da irrigação são a única abordagem para um crescimento sustentável da produção agrícola de longo prazo(Li Changping).
Fontes :
Boletim internacional de Desenvolvimento local sustentável #81